Quem sempre conviveu com excesso de peso, normalmente sabe mais nomes de dieta que de cidade do país. Quem nunca passou uma semana tomando sopa que atire a primeira pedra, não é mesmo?! Desses 20 anos de guerra contra o meu próprio corpo, a coisa mais próxima que tive de uma reconciliação (antes do atual processo de reeducação alimentar) foi a descoberta da DIETA DA PROTEÍNA.
Conceitos polêmicos, que em geral questionam os hábitos errados e a indústria (a verdadeira vilã)
Foi lá em 2001, quando uma nutricionista que me acompanhava há meses resolveu fazer um teste comigo e me apresentou a dieta da proteína. Eu me entendi com ela, perdi uma parte dos quilos às vésperas da formatura do ensino médio, e me estabilizei na faixa do sobrepeso.
Como sou rebelde, sumi do consultório algum tempo depois. Quando o peso voltou a incomodar, descobri em pesquisas na internet que se tratava do trabalho de um cardiologista americano, que escreveu um livro condenando o consumo de açúcar refinado e farinha branca na vida da gente. Ele afirmava que o problema da nossa alimentação não estava em comer gorduras, e sim nos carboidratos simples.
Ler o livro do dr. Robert Atkins me fez, pela primeira vez, analisar a relação de alimentação enquanto forma de consumo. Ele chamava as coisas que eu mais amava comer de “comidas lixo”, e dizia que havia uma relação de vício, dependência química mesmo.
Em geral, ele propõe uma mudança total de hábitos, em que no início você consome uma quantidade mínima de carboidrato e açúcar, e pode comer proteínas e gorduras até se sentir saciado. A proposta dele é que gradativamente você possa ir incluindo carboidratos saudáveis, como cereais integrais, legumes e frutas, por exemplo. Ao final do processo o corpo está em pleno equilíbrio e você se livra do vício e das doenças que as “comidas lixo” te proporcionam.
Nos anos 80, Dr. Atkins foi pioneiro em afirmar que o que fazia mal era o carboidrato, não exatamente as gorduras.
Ainda muito presa aos conceitos que aprendi a vida toda, passei os últimos onze anos alternando períodos em que segui a os conselhos do Dr. Atkins e eliminava uma dezena de quilos, e os que me entupia de lixo como se não houvesse amanhã. Eu acreditava que era melhor engordar e emagrecer, do que só engordar. E não me permitia imaginar a minha vida sem tomar a minha cerveja, ou comer chocolate, pizza, leite condensado, sushi…
Ouvi muita bronca, muita gente questionou “essa dieta louca”, mas o meu corpo sempre me mostrava resultados positivos. Não é só uma questão de emagrecimento, eu realmente sentia melhoras na minha vida, na minha disposição, no meu humor, e nada daquilo que diziam fazia sentido. Mas a ligação afetiva com a comida errada sempre me levava de volta aos hábitos anteriores, que me faziam voltar a engordar e ficar triste.
Em junho desse ano, decidi tentar uma abordagem diferente e, depois de todo esse tempo não conseguindo me submeter a outras formas de emagrecimento além do Dr. Atkins, decidi tentar uma reeducação alimentar. Decidi aplicar a disciplina que Atkins exige, e não desconsiderar nenhuma escapulida. Percebi que a mudança de hábitos é muito melhor quando você entende que o que é ruim é preciso eliminar da sua vida. E voltar a coisas que te fazem mal só para atender aos apelos do consumo é uma forma de escravidão.
Em geral, hoje acho que estou mais próxima do que o Dr. Atkins me propôs do que nunca. Aquelas comidas realmente são lixos. E eu consegui passar de fase, se antes tinha medo de ir incluindo aos poucos os alimentos que a primeira fase excluía, hoje estou conseguindo uma alimentação equilibrada, cada dia mais natural.
São muitos os mitos em torno da dieta da proteína, muita mentira, muita desinformação. Me incomoda a patrulha dos diet/light, já falei sobre isso aqui. Então a série que criei aqui no blog e teve uma surpreendente aceitação se propõe a DESCONSTRUIR AS IMPOSIÇÕES DO CONSUMO, E DESINFORMAÇÕES que circulam por aí. Entre as bobagens que ouvi sobre a “dieta da proteína” as mais constantes são:
1 – “Fazer a dieta da proteína vai te deixar indisposta, porque você precisa de carboidrato para viver” – Ninguém precisa de farinha branca ou de açúcar refinado para viver. A dieta da proteína transforma a lógica do seu organismo e, na falta do carboidrato, utiliza outras fontes de energia. Na primeira semana existe uma adaptação, acontecem sim os enjoos e as dores de cabeça, mas passado esse período o meu corpo me dava respostas muito positivas. Eu fazia musculação e atividades aeróbicas em muitas das vezes que estava na dieta, e nunca me faltou disposição.
2 – “Essa dieta aumenta os níveis de colesterol e triglicerídeos do seu corpo” – Orientada pelo livro, fiz todos os exames para comprovar, as taxas só melhoravam com a dieta.
Em geral, me incomoda a resistência encontrada a toda e qualquer tentativa de reconstruir hábitos que estão dando errado. Hoje eu não estou com hábitos atkinianos, mas continuo sendo vista como louca e radical por muita gente. Minha loucura é tentar manter minha alimentação saudável, e me manter longe de produtos que me deixam doente (mental ou fisicamente). Nem sempre consigo, claro. Toda e qualquer tentativa de contrariar a lógica do consumo é vista como loucura, e eu adotei a subversão. Me perguntei durante muito tempo se seria possível ser feliz sem consumir em um mundo capitalista. Hoje eu tenho uma conclusão: Só é possível ser feliz, livre das regras que a lógica do consumo nos impõe. Não deixe que o dinheiro defina o que você vai comer ou fazer, se permita escolher, permita ao seu corpo escolhas menos dolorosas.